Uma análise sobre a inserção das mulheres no mundo das pesquisas a partir da pós-graduação do CDTN
As diferentes formas de mudança do cenário atual da ciência de maneira a incluir, valorizar e inspirar as mulheres, estimulando-as a construir uma Rede de Apoio mútua entre participantes e convidadas, foram objetivos da segunda edição do Congresso de Mulheres na Ciência, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nos dias 30 e 31 de agosto. Para isso, proeminentes mulheres do cenário nacional da ciência apresentaram suas análises e projetos e discutiram as dificuldades enfrentadas ao longo das suas carreiras.
Grupo de alunas do PPG e da Iniciação Científica do CDTN que apresentou o estudo sobre a inserção das mulheres no mundo da pesquisa - Foto: Antônio Pereira Santiago |
Dentre as apresentações que aconteceram durante o evento, destacou-se, para nossa comunidade, um estudo, apresentado como pôster, sobre a Inserção das Mulheres no Programa de Pós-Graduação do CDTN. Estruturado até o 1º semestre de 2019, a partir de dados fornecidos pelo PPGCDTN, referentes ao período desde a implantação do mestrado, no 1º semestre de 2003, e, posteriormente, do doutorado, no 1º semestre de 2010, esse estudo foi realizado por oito jovens. O trabalho foi das engenheiras Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., todas alunas do Programa de Pós-Graduação do CDTN, e das graduandas, também em engenharia, e alunas de Iniciação Científica do CDTN, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Fig. 1 - Representação percentual dos gêneros feminino e masculino matriculados |
De acordo com as análises das informações, os resultados mostraram que durante os períodos avaliados, o PPGCDTN teve 511 alunos matriculados, sendo 72,4% no curso de mestrado e 27,6% no curso de doutorado. Desta população, 55,4% (Fig. 1a) e 50,4% (Fig. 1b) referem-se, respectivamente, à presença de mulheres nos cursos de mestrado e doutorado.
Fig. 2 - Avaliação anual de matrículas realizadas no mestrado (distribuídas por gênero) |
Foi observado também que para o mestrado houve uma maior presença de discentes do gênero feminino no PPGCDTN, entre 2014 e 2018, tendendo para a equidade no ano de 2019 (Fig. 2). Já no doutorado, em que pese terem iniciado com uma presença mais significativa em 2010, a inserção das mulheres somente voltou a se destacar em 2017 (Fig. 3).
Fig. 3 - Avaliação anual de matrículas realizadas no doutorado (distribuídas por gênero) |
Pelo estudo, esse cenário de expansão feminina entre os discentes não foi acompanhado pelo crescimento da presença das mulheres no corpo docente do Programa de Pós-Graduação do CDTN. Pela análise dos dados, uma maior presença feminina de orientadoras no corpo docente foi destacada no ano de 2005, chegando a 52,2% de mulheres, e em 2009, atingiu a equidade dos gêneros (Fig. 4).
Fig. 4 - Relação do número de orientadores no corpo docente por ano |
Desta forma, do início da Pós-Graduação até a atual situação levantada, as mulheres atingiram uma participação média de apenas 36,7% do corpo docente, mas contribuíram para a orientação de 45,5% das defesas realizadas no PPGCDTN (Fig. 5). As jovens destacam que, na data do estudo, as mulheres chegavam a apenas 29,4% do quadro de orientadores da Pós-Graduação.
Como complemento da análise, pelo estudo do quadro de docentes do PPGCDTN, 55,3% dos orientadores ocupam cargos de pesquisadores e 44,7% de tecnologistas (de ambos os sexos). Destes pesquisadores, as mulheres são 30,7%; e dos tecnologistas são 47,6%. E no ambiente geral do CDTN a presença de mulheres é ainda menor, atingindo apenas 24,0% entre todos os pesquisadores e 31,6% entre todos os tecnologistas.
Fig. 5 - Relação entre as orientadoras e as defesas realizadas |
Com a análise dos dados, as autoras perceberam um nítido “efeito tesoura”, em que o número de mulheres diminui conforme ascendem na carreira acadêmica (Fig. 6). Os indicadores mostram a dificuldade que as mulheres enfrentam para obterem crescimento profissional e a necessidade de mudanças dos padrões culturais a fim de alcançarem a equidade entre os gêneros.
Fig. 6 - Perfil da inserção das mulheres no cenário acadêmico |
Por outro lado, os indicadores mostraram que as mulheres matriculadas no PPGCDTN estão presentes em áreas de conhecimento tradicionalmente ocupadas por homens, correspondendo a 63,0% na área de Ciência e Tecnologia dos Minerais (CTMI), 48,0% em Ciência e Tecnologia dos Materiais (CTMA) e 52,2% em Ciência e Tecnologia das Radiações (CTRA) (Fig. 7).
Fig. 7 - Avaliação de matriculadas/os, conforme o gênero e área de concentração |
A partir daí, para finalizar o estudo, as jovens também analisaram as crescentes conquistas das mulheres nas diversas áreas de atuação profissional, em especial na Ciência e Tecnologia (C&T), uma vez que historicamente, até meados do século XX, valores e comportamentos sociais foram fatores limitadores na atuação das mulheres na ciência. Neste cenário, muitas mulheres que se dedicavam à ciência habitualmente estavam subordinadas às tarefas auxiliares.
O avanço na inserção das mulheres ao longo da história - Ainda assim, apesar de todas essas dificuldades enfrentadas pelas mulheres para terem seus trabalhos reconhecidos na história da ciência, grandes foram suas contribuições. A partir do século XX, mesmo com uma crescente atuação das mulheres nas pesquisas científicas propriamente ditas, ainda foi pequeno esse reconhecimento e valorização.
Um exemplo mencionado pelas jovens autoras do estudo foi o caso da pesquisadora Lise Meitner, que descreveu como consolidar um processo de fissão nuclear. Por ser mulher e judia, em plena II Guerra Mundial, sua descoberta na área de física nuclear não fora reconhecida pela comunidade científica. Este fato levou um outro pesquisador a receber o Prêmio Nobel como autor do feito de Lise.
Entretanto, um exemplo positivo apresentado pelas jovens, foi o de Marie Curie, que conduziu pesquisas pioneiras no ramo da radioatividade, sendo a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel e a primeira pessoa laureada com o prêmio por duas vezes (o 1º prêmio em Química e o 2º em Física).
Para as autoras do estudo, revelou-se, ao final, o quanto esse tema ainda é desafiador. Mas, no entendimento das jovens alunas, “o despertar da consciência sobre o tema da presença, o reconhecimento e a valorização das mulheres já é um diferencial”.
A contribuição dos orientadores - Refletindo um pouco mais sobre essas questões, o pesquisador e orientador de várias dessas jovens da Pós-Graduação do CDTN, Armindo Santos, afirma que “o Brasil não pode abrir mão desses cérebros valiosos, de profissionais competentes que podem alavancar o progresso social, econômico, científico e tecnológico do país”.
Com base em sua experiência pessoal, o pesquisador acentua a garra, a dedicação e a inteligência de suas alunas de Iniciação Científica, do Mestrado e do Doutorado, para absorver e materializar conhecimentos em temas de intensa pesquisa científica e tecnológica. Ele ressalta o exemplo da então mestranda (e hoje doutoranda) Luciana Sampaio Ribeiro, que contribuiu para o desenvolvimento de um novo conceito de combustível nuclear (Combustível Cermet), para geração de energia elétrica. “Um trabalho que gerou duas patentes para o Brasil”, completa.
Para Armindo, a ciência não admite discriminação de inteligência, dedicação e competência por uma questão de gênero. Com contundência reafirma: “O Brasil precisa de mais cientistas do sexo feminino”.
Edésia Martins Barros de Sousa pesquisadora e orientadora do PPGCDTN ressaltou a importância do estudo sobre as mulheres no mundo da pesquisa - Foto: Antônio Pereira Santiago |
Em uma análise ainda mais macro, de acordo com a pesquisadora e orientadora da PG do CDTN, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., os dados do Unesco Institute for Statistics (UIS), computados até 2017, indicavam que menos de 30% dos pesquisadores de todo o mundo são mulheres. “Estamos no terceiro milênio e a sociedade ainda não consegue resolver a questão do desequilíbrio de gênero, apesar de todo avanço conquistado neste século”, enfatiza.
Segundo o UIS, numerosos estudos descobriram que as mulheres nos campos de carreiras em ciências, tecnologia, engenharia e matemática publicam menos, recebem menos por suas pesquisas e não progridem tanto quanto os homens em suas carreiras.
Para Edésia é preciso vencer as barreiras que desencorajam as mulheres de ingressar na pesquisa cientifica e os obstáculos de ascensão para aquelas que já atuam na área. Ela reforça a importância das ações afirmativas e de um conjunto de iniciativas de diferentes vertentes da sociedade que focam no enfrentamento à exclusão feminina, inclusive na distribuição dos cargos de liderança, buscando igualdade de gênero.
Texto do jornalista Rogério Mamão Gouveia
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