A pandemia do Coronavírus, o funcionamento do CDTN e nossas ações
18 de Março de 2020
Desde 19 de março, o CDTN, com autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), mantém a maioria de seu pessoal – servidores, estudantes, colaboradores e contratados – em regime de trabalho à distância (home office), como medida de proteção à contaminação pelo Covid-19. Uma medida em atendimento às orientações públicas de observação de distanciamento social, para reduzir a proliferação do vírus e diminuir a velocidade de crescimento da curva do número de infectados. Essa medida de emergência deve continuar até o dia 30 de abril, pelo menos.
Os eventos que levaram a essa decisão evoluíram muito rapidamente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) fez a Declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional em 30 de janeiro. E, no Brasil, o Ministério da Saúde, já em 4 de fevereiro, publicou Portaria que declarava Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), "em decorrência da Infecção Humana pelo novo coronavírus (Covid-19)".
Se até 12 de março, a preocupação ainda era com as pessoas que chegavam de viagem internacional de “áreas de risco”, no dia seguinte os servidores já eram orientados para os cuidados com a exposição. Já em 16 de março, o diretor do CDTN, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., determinou o afastamento de servidores com mais de 60 anos e suspendeu atividades acadêmicas presenciais. Finalmente, dois dias depois, no dia 18, ficou determinada a realização de trabalho remoto com isolamento social e o funcionamento presencial apenas de atividades consideradas essenciais. Nesse momento, o mundo já estava mobilizado e o CDTN não ficou atrás.
Diretor do CDTN expõe sobre as medidas de enfrentamento à pandemia e as ações da instituição de pesquisa para disponibilizar suas capacitações, técnicas e equipamentos - Divulgação |
Assim, foi interrompido o andamento dos projetos de pesquisa em todos os laboratórios, bem como os serviços contratados, além de suspensos os eventos destinados ao público externo. O Programa de Pós-Graduação do CDTN mantém seu calendário exclusivamente com atividades a distância. Estão interrompidas, por exemplo, pesquisas para produção de grafeno e outros materiais nanoestruturados; de novos radiofármacos e de sensores para diagnóstico rápido de doenças virais; de processo para separação de terras raras e para aproveitamento de resíduos minerais, dentre várias outras.
Foi suspensa também a prestação de serviços de calibração de monitores de radiação e de dosimetria de trabalhadores expostos às radiações; de análises químicas e radioquímicas, incluindo de trítio ambiental; de coloração de gemas por irradiação gama; de ensaios mecânicos. O reator nuclear de pesquisa do CDTN foi desligado.
Em cumprimento ao seu papel público e social, seguem em funcionamento no CDTN apenas suas atividades essenciais, com:
- o recebimento de rejeitos radioativos, uma atividade reservada à CNEN por força constitucional;
- o atendimento a emergências radiológicas, por meio do seu Serviço de Atendimento a Emergências Radiológicas - SAER, um apoio à comunidade na verificação e solução de ocorrências não esperadas com materiais radioativos;
- a irradiação de hemoderivados, pelo Laboratório de Irradiação Gama (LIG), um apoio essencial para que os hemocentros possam oferecer aos pacientes material de qualidade;
- a produção de Radiofármacos, para exames de diagnóstico em medicina nuclear, por meio de Tomografias por Emissão de Pósitrons (PET-CT, na sigla em inglês).
Complementarmente, como iniciativa de apoio de primeiro momento para o combate emergencial à epidemia de Covid-19, o CDTN doou à Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte mais de 12 mil peças (toucas, luvas e máscaras cirúrgicas), fundamentais para a proteção dos trabalhadores da saúde expostos ao vírus, uma vez que estão na linha de frente do atendimento aos pacientes atingidos pelo novo coronavírus.
Nessa mesma linha, o CDTN aderiu imediatamente à rede social criada para a produção, em impressoras 3D, de máscaras (viseiras) de acrílico para esses profissionais, mantendo desde então esse equipamento em atividade constante. Da mesma forma, desenvolveu e compartilhou o projeto de óculos de proteção especial para o uso dos profissionais de saúde, para produção distribuída.
O processo, os equipamentos e as técnicas para o reconhecimento do novo coronavírus com aptâmeros foram apresentados ao ministro Marcos Pontes, do MCTIC, pelo pesquisador da Radiobiologia do CDTN, Antero de Andrade - Divulgação |
Além disso, o CDTN disponibilizou o Laboratório de Irradiação Gama para prestar serviços de esterilização de equipamentos de proteção e materiais de saúde que se fizerem necessários e ofertou à Fundação Ezequiel Dias (Funed) a disponibilidade de equipamento de PCR para exames de identificação do vírus Covid-19.
Muito mais - Mas o CDTN se colocou em condições de fazer muito mais do que isso. Para atender à Portaria 1.245, de 24 de março, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que definiu as prioridades a serem adotadas para enfrentamento do Coronavírus - Covid-19, o CDTN apresentou algumas de suas importantes capacitações.
No Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias (SisNANO), o CDTN tem atuado em pesquisa, desenvolvimento e inovação em medicamentos, vacinas e testes diagnósticos, podendo essas iniciativas serem direcionadas ou adaptadas para identificação ou tratamento do novo coronavírus humano.
Nesse âmbito, em até 180 dias, a contribuição do CDTN pode se dar com a disponibilização de nanopartículas e/ou nanocompósitos de óxidos de ferro, nanotubos de nitreto de boro, nanoestruturas de carbono (nanotubos, grafenos) e sílica, como obtidos ou funcionalizados (incluindo biomoléculas), na forma de soluções coloidais de nanopartículas monodispersas e estáveis ou depositados sobre substratos, amplamente caracterizados, que poderão ser utilizados como veículos de transporte e no desenvolvimento de vacinas, antivirais e testes diagnósticos.
Aprofundando um pouco mais, um exemplo específico seria a possibilidade do desenvolvimento de nanoplataformas baseadas em grafenos quimicamente esfoliados, funcionalizados com biomoléculas para o biosensoriamento eletroquímico. Esses são sistemas de detecção simples, de relativo baixo custo, sensíveis, reprodutíveis, rápidos e robustos, que vêm sendo estudados no CDTN, com a colaboração de outras instituições, em uma abordagem multidisciplinar.
Para o direcionamento desse sensoriamento à necessidade atual, aptâmeros para o reconhecimento de proteínas do novo coronavírus estão sendo desenvolvidos no Laboratório de Radiobiologia do CDTN, pelo pesquisador Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Os aptâmeros podem ser utilizados também em terapias, pois uma dessas proteínas virais que se ligam a receptores na superfície da célula poderá ser bloqueada, impedindo com isso a entrada do vírus e a sua multiplicação.
Campanha do Ministério da Saúde para evitar o contágio e reduzir a curva de infectados, permitindo a preparação do Sistema de Saúde para tratar os doentes sem sofrer colapso - Divulgação |
Também está em andamento, em um trabalho colaborativo com as universidades federais de Viçosa (UFV), de Minas Gerais (UFMG), Rural do Semi-Árido (Ufersa), com a Universidade de São Paulo (USP) e com a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), o desenho de peptídeos estruturais da região de ancoragem do receptor celular ACE2, contendo ligante direcionador para interação com as nanoplataformas, contendo a proteína spike (S) do vírus, com domínio de ligação ao receptor da célula.
Além destas contribuições, poderá ser disponibilizado pelos Laboratórios do SisNANO do CDTN todo o seu parque de equipamentos e técnicas de caracterização de nanoestruturas. Entre essas destacam-se: o espalhamento dinâmico de luz (DLS), a análise de potencial zeta (ζ), a análise termogravimétrica (TGA), a difratometria de raios-X (DRX), a fluorescência de raios-X (FRX), o espectrômetro de emissão óptica por plasma acoplado indutivamente (ICP-OES), a espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), a microscopia eletrônica de transmissão (MET), a espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X (XPS), a microscopia de força atômica (AFM e MFM), a magnetometria de amostra vibrante (VSM), a espectroscopia Mössbauer (EM), a espectroscopia na região do UV e UV-VIS, a espectroscopia de correlação de fótons (PCS), a análise elementar (CHNSO) e a adsorção de nitrogênio (BET).
Segundo o diretor Luiz Carlos Duarte Ladeira, “dessa forma, o CDTN segue observando as orientações e determinações das autoridades sanitárias e estabelecendo o aprofundamento necessário de suas ações para oferecer suas contribuições ao seu papel público e socialmente responsável”. A tarefa, agora, é orientar competências e talentos para ajudar o Brasil a superar essa etapa da história.
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. - jornalista
Acesse aqui a íntegra dessa edição.
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